Exílio

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Estive dividindo minha soberania contigo, vendo as mesmas cores e tons ao teu lado.

 

E quando me neguei a entregar o que mais tu pedias, senti-me descartada, largada em algum jardim solitário.

Ali sobraram apenas meus demônios, o vazio e a inconsistência.

 

Tive a tendência de achar que seria a única, e que te faria meu.

Não teria de ser tua submissa, e tu serias como eu.

 

Segui acreditando em minhas palavras.

Deus, meu Pai, me criou e me derramou a sabedoria de uma serpente.

 

Meu exílio no escuro fez-me acreditar que eu era má.

Mas como tu, tão rápido, pôde me substituir?

Como não quiseste me encontrar?

 

Então mudaste como uma estação, descartando o que dissera antes.

 

Fui embora, pois vi que domarias qualquer corpo que não fosse o meu.

Me usarias e, então, me deixarias corrompida com tua indecência.

 

Quando surgi sob o sangue e a saliva,

vi-te tão inocente, feliz em me encontrar.

Mas nada me faz crer que agora, Eva te acompanha ao caminhar.

 

Ela baixa a cabeça ao te ouvir falar, e agora é ela que eu irei enganar.

Como uma serpente, rastejarei para dentro de seu lar, sem que percebas o meu voltar.

 

Minhas asas me guiaram para a árvore no altar,

Lá pude contemplar, além de enfrentar, o que meu Pai disse para eu não tocar.

 

Ali estava ela suave como uma nuvem no céu.

Tão calma, tão serena, parecia até forçar.

 

A chamei, apenas num sussurro, e ela veio, encantada a me vislumbrar.

Entreguei-lhe o fruto e lhe contei que, com uma mordida, poderia Deus enxergar.

 

Ela então não só experimentou,

como levou até seu amado para degustar.

 

Logo seus corpos ficaram nus, e pude ouvir a voz de meu Pai a chiar.

 

Tive que partir apressada, com medo d’Ele me castigar.

 

E quando cheguei ao meu destino,

vi que não era apenas sombrio e silencioso, mas também teria sido esquecido.

 

Sequei minhas lágrimas e me sentei.

Ali estaria meu castigo.

Meu exílio.

 

E então, só sobraria meu eco, que hoje está aqui e em todo lugar.